terça-feira, 9 de setembro de 2008

Os fracos herdarão a Terra, mas não no sentido que queria a Bíblia, como prêmio à humildade e à contemplação. É que só os miseráveis de hoje estão preparados pra enfrentarem qualquer crise. Eles estão treinando há gerações.
Pense um pouco. Quem tem mais possibilidade de aguentar uma crise total de combustível? Os pedestres, é claro. Os carroceiros. Algumas tribos nômades. Você e eu, acostumados ao carro particular, ao táxi, ao ônibus seletivo e à carona - ao transporte automotor enfim - não saberemos mais andar. Nós não somos automotores, nos habituamos a ser levados. Não teremos nenhuma chance contra quem se criou em filas do INPS* e correndo para bater ponto. Chegaremos, invariavelmente, por último, nos queixando dos calos.
E a crise de alimento? Quando só houver arroz, feijão e um pouco de farinha para cada cidadão, quem terá estômago para agüentar ? Quem se acostumou desde pequeno, claro. Os subnutridos natos. Prevejo os hospitais cheio de novos-pobres sendo atendidos por saudáveis favelados.
- Tome a sua sopinha de aipim, vamos. O aipim é deste ano, eu mesmo lavei.
- Argh!
- Hoje ela tem até um pouquinho de sal. Coragem...
As forças vivas de hoje serão os marginais de amanhã. Associações de lavadeiras farão sopas de aipim beneficente em prol das damas da sociedadde com insuficiência calórica. Ex-zeladores de carro darão pequenas gorjetas a executivos para ficarem cuidando das crianças enquanto eles saem pra fazer biscates. Os líderes desta nova sociedade serão catadores de lixo - ou Técnicos em Reciclagem, na nova nomeclatura. O que descobrir reaproveitáveis no meio do lixo será aclamado Homem de Visão do ano, com direito a um carroção particular puxado por três parelhas de profissionais liberais.
Cada privação criará a sua elite. Com a falta de energia elétrica teremos a ascensão dos ladrões, acostumados andar no escuro. A crise de habitação favorecerá os que vivem embaixo de pontes. Estes venderão seu know-how financiado, mas a correção monetária será demasiada e haverá uma onda de despejos, para dentro do rio.
Comece, portanto, a tratar melhor os miseráveis. Dê altas esmolas [??]. Corteje seus empregados. Seja caridoso. E se você é daqueles que dizem – “Não sei como essa gente consegue sobreviver” -procure descobrir e decore tudo. Para eles a crise sempre existiu. Eles têm uma prática.
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meu trabalho de literatura, foi sobre essa cronica do Veríssimo. achei bem legal, texto bem irônico com uma outra visão, porque nele, não é o forte que irá sobreviver, e sim o fraco que já está acostumado com os lados ruins da vida.

é só! comentando o meu dia, foi um lixo. preciso dormir, não estou me sentindo bem.
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