sexta-feira, 31 de julho de 2009


Quem sou eu? - Uma incógnita

A sempre eterna questão filosófica que nos remete a todo tempo, a toda hora, a todo minuto e segundo, constantemente (já cansam tantas expressões análogas), a uma profunda reflexão pessoal relativa à existência e definição da verdadeira essência do nosso ser, uma vez que viemos do pó e ao pó voltaremos.
Após iniciar este desafio, que propus a mim e aos meus restantes colegas, experimentei algumas dúvidas ao redigir este texto, sendo eu já uma dúvida em relação ao meu próprio ser. Surgiu então, entretanto, alguém que me disse: “ Há tanta coisa que podes falar. O que tu gostas também revela quem tu és. Porque não falas um pouco da música que tanto gostas?” – porque não? A música, mais especificamente o piano, é a minha apaziguadora espiritual, intelectual e física, de todas as artes é rainha, nenhuma mais tem um poder tão distinto como esta. Através desse poder que exerce encontro descanso e paz, atravesso um mundo diverso, inexato, semelhante a um sonho, mas acordado, e assim penso como um todo. Penso na transitoriedade da vida, das gerações muitas que por aqui circularam até a minha chegada e das muitas que passarão durante e após a minha passagem; de como vinte e quatro horas, um ano letivo, trezentos e sessenta e cinco dias passam num ápice, feliz o pensador que inventou a expressão “tempus fugit”, “o tempo voa”, este sim transborda de razão. Voam o tempo e a vida, eterna e intimamente ligados, deixando atrás apenas recordações, como a água que passa num dado momento no rio que, por mais que fiquemos à espera, não tornaremos a vê-la. Penso ainda nas paixões que tive e desilusões causadas por uma ou outra em particular, escuto a música e relembro os bons momentos que o tempo deixou para trás, não guardando rancor e vivendo abençoado, uma vez que permitir o contrário seria perder tempo e o tempo que nos resta é sempre curto.
Recordo ainda os meus amigos, que, em qualquer caso, sempre poucos são os verdadeiramente dignos dessa palavra, mas daqueles que tenho, a sua importância é muita, enorme aliás. Passar um bom tempo com amigos, ter a sempre boa companhia da música, passear ou simplesmente caminhar à noite por prazer, sentir a brisa fria do inverno, devidamente resguardado, e assistir a um belo espetáculo são dádivas proporcionadas pela vida, das quais muito me regozijo.
Contudo, depois de tanta reflexão, não me sinto ainda preparada a responder à questão inicial que me propus, pelo menos contínuo sem saber exactamente o que responder. Neste preciso momento, o que consigo dizer é que sou melancólica, que é em grande parte verdade, se bem que estou convicto que a totalidade daquilo que considero o meu “eu” é algo bem mais complexo que a melancolia e nostalgia.
Tenho várias sombras a rodear-me e, portanto, busco ainda a minha verdadeira identidade. Sei quais os meus gostos, os meus interesses, as minhas tendências e hábitos, contudo, não passo de um ponto de interrogação ambulante que vai de rua em rua.
Quem sou? Não sei. No entanto algo sou e, por enquanto, esse algo é uma só coisa - uma incógnita.